quinta-feira, 5 de março de 2009

Maibe

De minha amiga Sandra Silva:

Maibe

Fui criada tendo como irmão um cachorro. Na verdade, vários cachorros, sendo que um por vêz. Explico: minha mãe sempre foi apaixonada por um pequenez; assim, morria um, chegava outro e, olha, lembro-me de vários velórios.

Mas, vamos por ordem de chegada à casa dos Müller: primeiro o pequenez Charlito I . Esse era um peludo preto que, pelo que lembro-me, morreu babando no colo de minha mãe que ficou adoentada, logo após, por uma semana. E, seu nome era pronunciado com som de ch, mesmo. Casa de gente simples, qualquer nome estrangeirado é luxo;inda que escrito de forma equivocada!!! (Santa inocência canina... Nem latindo conseguiriam protestar a ignorância humana!)

Bem, papai pra compensar a tristeza pós-mortem de mamãe, trouxe-lhe uma recompensa canina em dose dupla. O velho não era bobo.. Vai que a praga pega e o bichano tb morre... Foi aí que entraram pra família Charlito II e Samantha!
Bem, se vc está vinculando o nome do bicho a feiticeira da TV, bingo!!! Isso mesmo!!
A cachorra não era mágica, mas enfeitiçou-nos logo “de cara” com aquele pelo cor de mel aveludado...

Bem, não demorou muito e lá estávamos a enterrar, no quintal de casa, outro cão de estimação...

Eu era muito criança pra entender certas coisas.... Hoje, fico a refletir se não trocaram o cálcio. É.. porque, lá em casa, eu tomava Calciogenol branco e os cachoorros Calciogenol rosa.

Bem, Samantha morrera e Charlito era uma lástima só... Foi adoecendo, adoecendo e, papai pra não ver mamãe sofrer, levou-o embora numa dessas noites em que só se escuta o que se precisa escutar.

O tempo passou e ele cedeu aos olhos pedintes e encantados de minha mãe por um Terirer . Preto, imponente, recebeu o nome de Sheik.

Não vou falar que Sheik tb foi enterrado no quintal, lá de casa... Sinceramente, se eu acreditasse em certas coisas, eu diria que havia umas sessões de vodoo subterrâneas daqueles bichinhos asquerosos e esmilinguidos ....

Bem, não lembro-me mais de cão algum pelo qual tenha minha pobre mãe tenha se apaixonado; e, se o fez, entalou-se com seu amor canino, não arriscando um pelo sequer do pobre animal, levando-o pra nossa casa.
Dos meus 6 anos dessa época cheguei à idade adulta com aquela frustração á flor da pela, que somente a genética deve explicar; afinal, eu queria tanto ter um cão, tb!!!!

Foi assim que por volta dos meus 4.0 eu decidi ter um cão. Mas, embora pudesse comprar um, eu queria adotar um cão.

Bem, a SUÍPA me pareceu o caminho mais racional.

Através de um contato, checamos sobre a possibilidade deu adotar um yorkshire
pequeno, desses miniaturas que, quase, cabem na palma da mão.
Pelo funcionário que nos era via de aceso, fiquei sabendo que meu bichinho havia finalmente chegado ao canil pra adoção.

Era sábado e voamos pro Rio para que eu, finalmente, depois de um mês de aguardo, pudesse conhecer meu pequenino.

Chegamos! U lugar era algo indizível!

Um canil gigantesco, com muitas repartições, odor característico de canil sujo e superlotado e funcionários tentando oferecer uma vida digna àqueles animais largados cruelmente, muitas vezes, pelas ruas a morrerem atropelados .

Bem, uma veterinária veio ao nosso encontro e disse: - Você é a Sandra, certo? – Meneei a cabeça afirmativamente, enquanto o coração tentava iludir-se em acalmar-se.

- Bem... – continuou ela: -... o animal que conseguimos, talvez, não seja exatamente da sua pretensão. Ele está bem abandonado... Queremos saber se vc, realmente, quer efetivar a adoção.

Mas, meu Deus, eu estava ali pra isso... Pra buscar meu pequenino York Shire, ora...
Após confirmar e reconfirmar ela subiu a escada e se foi... Não demorou mais que 10 minutos e surgiu segurando algo que eu não consegui, em momento, classificar bem onde era o começo, onde era o fim...

Ela descia a escada segurando uma massa cinzenta, toda borrada de preto, com as duas extremidades úmidas e, algo que mesmo sem eu conseguir compreender arrebatara meu coração como poucas vezes eu experimentara...

De repente, ela estendeu um pouco os braços em minha direção e disse: - Bem, é isso aqui que temos pra vc. Se vc quiser.... é claro!!!

Deus! Percebi quando dois olhinhos remelentos me olharam assustados... Eu não tive dúvida... estendi o braço e peguei aquele cachorro de mais ou menos 40 cm, fedorento, feio e, visivelmente, deprimido e tive a certeza mais nítida do mundo que aquele cão era o meu .

Sentada numa ante sala, esperei toda papelada ser preenchida por minha sobrinha e, logo depois, pegamos a estrada de volta.

Paramos no Carrefour e comprei tudo que tínhamos direito: shampoo, sabonete, travesseiro, brinquedos, enfim...

Ao chegarmos já pelo início da noite, já sabíamos que algo estava muito errado. Vomitando e com diarréia, aparentemente sentindo dor, não tive alternativa e parti pra uma Veterinária numa outra cidade,50 quilômetros depois da minha.

Para surpresa nossa, a internação foi necessária e voltei aos prantos... Afinal, eu já havia visto esse mesmo filme algumas vezes...

Bem, não vou descrever quantas vezes internei meu cão. Com o dinehiro gasto, eu teria comprado por volta de 3 ou 4 Yorkshires puros e miniaturas...

Mas, não me arrependo... Fiz tudo o que meu coração pediu que fizesse.

Tivemos dias felizes... Muito carinho, muito paparico, até o dia em que Maibe Joplim (o seu nome, em homenagem a “alguém” que amava a cantora; assim, coloquei o nome dela e de sua melhor música, em minha simplória opinião) avançou em meu punho, pegando uma veia e fazendo-a esguichar enquanto eu tentava fugir, e ainda ferindo os dois tendões dos meus pés em minha tentativa de subir sobre a cama.

Bem, naquele dia um namorado meu que estava perto, quase o matou de tanto bater com um pequeno tapete enrolado.

Eu chorava em meio a todo aquele sangue, sabendo que Joplim gravemente ferido com tanta violência!

Socorreram-me ao hospital e, ali, eu já sabia que precisaria tomar a decisão única de sacrificar aquele meu pedaço de felicidade em forma de bicho.

À noite, agarrada a alguém, tapando os ouvidos como que se possível fosse escutar os tiros, eu sabia que Joplim já estava livre de toda a violência que deveria ter sofrido para ter sido abandonado às ruas, sem defesa; afinal, ninguém abandona um cão de raça assim, gratuitamente.

Jolplim alternava um comportamento doce com um altamente feroz... Poderia ser fatal a uma criança pequena... E, claro, como não podia se defender de nossas ignorâncias humanas... ele foi o animal a caminho do matadouro; afinal, não é assim com toda a “ovelha” que se preza???



“TalvezÂ…
Oh, se eu pudesse orar, e tentar, meu bem
Você voltaria para casa, para casa para mim.”

Maibe – Janis Joplim
http://www.youtube.com/watch?v=XsuufxE24X0

Denzel Washigton - Terezinha Castro

"Denzel Washigton apareceu em minha casa uns cinco dias depois que mudei para ela.
Ele vinha de mansinho e foi difícil fazer um carinho nele.
Tinha uns quatro mêses mais ou menos. Ele é todo preto, daí seu nome.
Resolvi colocar uma tijela com leite morno e um punhado de ração no mesmo lugar, todos os dias.
E assim foi. Ele vinha, comia, ganhava um carinho e ia embora.
Passou um mês, ele adentrou a cozinha.
Mais um mês , ele já fez um tour pela casa.
Decidiu então que passaria o dia dormindo na minha cama.
Sim, o dia....Porque à noite ele saia para dar umas voltas...
Não tardou para que ele se metesse em grandes confusões noturnas.
Não que houvesse alguma fêmea para ele proteger, não.
Era só questão de "demarcar" seu território. Além de brigas, de dia era xixi dele por todos os cantos da casa, deixando aquele "maravilhoso" perfume de gato impregnado no ambiente.
Mas tinha algo que me chamava a atenção:
Denzel ás vezes sumia também durante o dia. E quando retornava, vinha com um perfume de homem no pescoço. Sim! Perfume de homem. (gente, ser humano)
Deduzi então que ele tinha duas casas. Dois senhores. Dois deuses. Dois donos. Dois amores. Dois provedores de suas necessidades básicas, ou seja, comida.
Quando mudei para um apartamento no centro da cidade, resolvi castrá-lo.
Meus problemas acabaram, e os dele também.
Enfim, agora ele vive todo dia dormindo, comendo, pegando um solzinho, e recebendo todo amor, carinho e provisões de um só dono. Ele é feliz!
As vezes me pego olhando fixamente para o Denzel e refletindo sobre o preço que ele pagou para ser assim, tão feliz.
Teve que "renunciar" sua identidade de macho dominante, (que na verdade, só lhe trazia problemas) teve que se submeter, aceitar e render-se totalmente a mim: sua dona!
Levo isso então para o lado divino da coisa:
"Renunciamos" nossa identidade de humanos frágeis?(achando que somos muito fortes)
Nos submetemos, aceitamos e nos rendemos totalmente ao nosso "dono"?
Com ceteza, seríamos felizes como o Denzel se assim fizéssemos.
Mas... Quantos donos temos? Quanta soberba, quanto orgulho ferido, quanta fortaleza...
Que possamos aprender com o Denzel... Denzel Washigton, um gato e tanto!"

Terezinha Castro